quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Sobre adoção

Já à algum tempo ando para fazer um post sobre adoção. Por nada de especial e por tudo o que significa na minha vida. E ontem recebi um mail de resposta da assistente social que tratou do processo de adoção do meu menino e que me disse que apenas eu e outra mãe lhe vamos dando noticias do meninos e que elas gostam tanto de saber como as coisas estão a correr e de acompanhar o crescimento deles...

Cada vez menos pessoas sabem que o meu filho é adotado, visto já ter o nosso nome e acho engraçado quando comentam que é parecido com o pai  :) Também vou pensando cada vez mais que se aproxima a altura em que terei de conversar com ele e de lhe dizer que não nasceu na barriga da mãe mas sim no seu coração. não me sinto particularmente ansiosa em relação a essa conversa mas tenho algum receio na reação dele. Será ele a desencadear tal conversa quando demonstrar curiosidade sobre algumas coisas, como não ter fotos desde que nasceu, como o irmão ou não ter estado na barriga da mãe. Já me fez alguns comentários sobre estar dentro da minha barriga mas eu acho que com 2 anos, ainda não ia entender o que eu tenho para lhe explicar.
Os comentários são cada vez menos sobre nós mas ainda sinto que as pessoas falam à nossa passagem em como adotamos uma criança. não de uma forma negativa mas quase com admiração. Porque para mim e para o meu marido a adoção foi uma coisa tão simples, tão fácil, tão comum, que me surpreendeu que a maior parte dos meus amigos e familiares, alguns dos quais que eu considero pessoas com o espírito muito pratico e aberto, me dissessem que nunca adotariam uma criança... E a principal razão para não o fazerem era acharem que podiam não as amar suficientemente...

Também me questionam frequentemente se eu não tenho medo de gostar mais do Dinis por ser meu filho biológico ou se não penso que estou a tirar coisas ao biológico para dar ao adotado, principalmente com a crise que nos apanhou.

Respondo sempre se que por um segundo me tivesse passado tal ideia pela cabeça nunca teria avançado para adoção. E que se tivesse 2 filhos biológicos nunca ninguém me faria a pergunta de se achava que estava a tirar a um para dar ao outro...

A nivel se aceitação, acho que 100% das pessoas da minha família e amigos aceitaram o Eduardo como "igual", digamos assim, apesar de existirem algumas pessoas que eu sei que gostam muito dele, acho que é um querido mas nunca exatamente igual ao meu filho mais velho... Tenho uma tia que a 1ª coisa que perguntou quando lhe contei que tinha adotado, foi se ele era "clarinho" e diz imensas vezes que gosta muito dele mas o Dinis é que é o seu menino... Outra passa a vida a dizer que eu vou ter muito trabalho com ele, cada vez que faz uma birra ou mostra má, algo normal nas crianças, mas cujos comentários nunca são dirigidos ao mais velho.

E noutro dia descobri que o meu filho é um menino "diferente". Porque na escola do Dinis leram um livro sobre meninos diferentes e lá estava escrito que as crianças adotadas eram diferentes das outras e tínhamos de as aceitar bem, blá blá blá... O Dinis na sua inocência de criança, a quem sempre foi passada a ideia de que a adoção era algo tão comum e natural como beber um copo de água, disse logo que o mano dele era adotado... Vieram logo mães de outros colegas dele, que não sabiam, perguntar se era verdade e passaram a trata-lo com uma atitude quase paternalista.

Também me faz confusão quando leio ou vejo pessoas ofendidas quando lhes dizem que pode adotar, por terem problemas de fertilidade (como eu tenho). A adoção nunca deve ser uma alternativa mas sim um complemento. E deve ser uma decisão de comum acordo entre as duas partes envolvidas. Que me desculpem se vou ofender alguém com o que vou escrever, mas quem tem problemas para engravidar e não põe a hipótese de adotar ou acha que é um disparate alguém propor tal, não quer ser mãe, quer sim estar gravida. E existe uma diferença, eu bem sei pois apesar de amar o meu filho adotado EXATAMENTE da mesma forma e com a mesma intensidade que sinto pelo mais velho, gostaria de o ter sentido crescer dentro de mim, de lhe poder contar histórias de embalar onde lhe dissesse que este quentinho na minha barriguinha durante 9 meses...

Mas o amor é algo que nasce com o convívio, que cresce como uma flor, que se conquista. Amar os nossos filhos quando estão dentro da nossa barriga, sentir uma paixão imensa logo que eles nascem? Sim eu senti isso pelo Dinis mas existem muitas mães que não o sentem, que não tem afinidade pelos filhos, que só sente esse amor de mãe muito tempo depois de os filhos terem nascido, ou nem o sentem sequer...

Por isso acreditem, ser mãe do coração é tão bom como ser mãe biológica, faz-nos sentir realizadas da mesma forma e nem nos lembramos que esse ser lindo que existe nas nossas vidas não nasceu da nossa barriga mas sim do nosso coração e que daríamos a vida por ele, em qualquer momento, sem pensar 2 vezes.


29 comentários:

  1. Lindo!!! Adorei ler-te! És uma pessoa muito bonita!!!
    E tens um filho mais novo com um sorriso lindo e sincero, é feliz!

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  2. O nosso menino também foi aceite de braços abertos e sem reservas pela maior parte dos nossos familiares. ou melhor, pela maior parte dos meus. a família do lado do meu marido gosta dele, mas dessa forma paternalista que descreves. e a minha sogra disse logo que ele não era nem nunca ia ser neto dela, embora agora tenha a certeza que já engoliu essas palavras (um dia escrevo sobre isto). fora da família, quem sabe que o M. é adoptado (ele é muito parecido connosco, parece mesmo uma mistura dos dois) ou é paternalista, ou demonstra preconceito. vejo tantos meninos a portarem-se mal, muito pior do que ele (e, convenhamos, há comportamentos que nos irritam, mas são próprios da idade) mas o nosso filho é visto como o pior, o futuro delinquente...

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  3. Oi ...Adorei ler este post...acho que voce tem uma ideia muito boa e fascinante como pensa sobre isso, e como tem visto as duas experiencias, mae de sangue e coraçao...
    Eu adorei a parte que " A adoção nunca deve ser uma alternativa mas sim um complemento. "

    Beijo

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  4. Li já há muito tempo um livro simples, pequeno, com uma história simples em que a personagem principal/autora descrervia a sua "vida" sobretudo o facto de ser adoptada. Uma das coisas que me ficou foi o facto de ninguém lhe dizer que ela era diferente, menos, uma coitadinha e que devia erguer as mãos para o céu por ter tido a sorte de ser adoptada. Tinha os mesmos direitos e responsabilidades que qualquer outro membro da família.
    Mas o que mais me marcou foi a mãe lhe dizer que apesar de ela não ter crescido debaixo do coração, cresceu dentro dele e isso era o mais importante.
    Eu punha a hipótese de adoptar caso não tivesse tido filhos, hoje em dia já não ponho porque não podemos ter outro filho, biológico ou não. Mas quantos filhos "de barriga" não são amados, queridos, desejados. Para mim, na adopção há uma noção romântica que de as linhas do destino se cruzaram e aquela criança veio ao mundo por outra mãe e não para aquela que estaria destinada.
    Adopção ou como se escreve agora adoção, é adoçar, amar, educar, criar com tudo o de bom e menos bom que isso acarreta. Tal como ter um filho biológico é uma decisão do casal adoptar também.
    O sorriso do teu filho mais novo diz tudo. Se fosse uma criança "diferente" não sorria assim. Aliás, ele é diferente e único como qualquer criança e como qualquer um de nós.
    Bjs

    PS: Desculpa mas não aconsigo escrever de acordo com o novo acordo ortográfico, faz-me "confusão".

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Adorei ler-te, e identificome imenso nas tuas palabras, por aqui o meu filhote também foi aceite 100%, mas..há sempre um mas, irritame que as pessoas achem que ele tem de ser agradecido por ter sido adotado...para mim isso é impensável, porque ele não teve sorte nenhuma, ele teve foi um grande azar, foi uma criança abandonada pela familia, familia que o deveria amar e cuidar para todo o sempre, esteve mais de dois anos institucinalizado e deve agredecer??? isto era o mínimo que a vida
    lhe poderia dar de volta, por tudo o que já passou, sem ter qualquer culpa o qualquer decisão sobre o seu futuro...agradecidos tem de ser todos, mas muitos não o vão ser, biológicos ou adotados, não é esse o facto que vai fazer a diferença!

    E se alguem teve sorte, fomos nós, que desejavamos ter um filho!!
    Bj

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  7. Es mulher maravilhosa! concordo com td que escreves-te. Olha tem dentes iguais á minha Ana em cima 2 dentes incisivos!
    bjos
    Luna

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  8. Magnifico.....
    Adorei as tuas palavras!!!!
    Já tinha tantas saudades de vos ler :)
    Beijinho grande

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  9. Que texto lindo, amiga!!!!

    Só quem passa pela situação é que o pode afirmar, mas eu sempre achei que se adoptasse, o sentimento seria exactamente o mesmo! Acho que só teria dificuldade em lidar com as outras pessoas e com a sua falta de sensibilidade...

    Um beijinho enorme para ti e para a tua linda família!

    Filipa Freitas

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  10. Que lindo amiga, eu acho que a altura certa chegará,o E. ainda não entende. Mas vai entender e amar-te ainda mais por isso, por lhe teres dado uma vida plena de amor ;)

    Zanita

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  11. Maria obrigado pelo teu texto!
    Adorei...
    Um dia tambem vou escrever algo parecido ;)
    Beijinho
    Olinda

    Ps já te disse que gosto muito de voces?

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  12. O Eduardo está em boas mãos , sem dúvida. Teve muita sorte em ter um família como a vossa.

    E tb concordo que a tal conversa deve surgir quando ele se questionar com o básico: "De onde eu vim?!" E vais ver que tudo vai correr naturalmente. Sou apologista em que ele saiba da verdade. O Steve Jobs tb foi adoptado e ele foi e é uma referencia de pessoa.

    beijinhos

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  13. Se existissem mais pessoas como a Maria, o mundo seria bem mais bonito!
    Felicidades!

    Paula

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  14. Maria, não podia concorcar mais contigo!
    Obrigada pela partilha.

    Beijinhos

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  15. Adorei ler este relato. Dá vontade de adoptar uma criança! Esta é uma hipótese a ponderar.
    Este texto desmistifica algumas ideias e acho fabuloso ler :
    "Por isso acreditem, ser mãe do coração é tão bom como ser mãe biológica, faz-nos sentir realizadas da mesma forma e nem nos lembramos que esse ser lindo que existe nas nossas vidas não nasceu da nossa barriga mas sim do nosso coração e que daríamos a vida por ele, em qualquer momento, sem pensar 2 vezes."

    Desejo-vos as maiores felicidades deste Mundo.

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  16. És uma mamã linda! Os teus filhotes têm imensa sorte!
    Sabes, tb acho o Edu parecido com o Carlos, azar para ti, puxou mais ao Pai! ;)
    Beijokas grandes
    Sandra

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  17. Como eu e a minha cara metade nos revemos nas tuas palavras. De facto uma adopção e muito mais do que por vezes esperamos. E mesmo o que nos surpreende vai nos ajudando a crescer cada vez mais. Situações diferentes mas que nos ajudam a crescer quer como casal e até como humanos que somos. Obrigado por este teu poste.

    Rosalino

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  18. Adorei ler o teu post. Identifico-me com todas as tuas palavras sobre a adoção. Tenho dois filhos que são a minha vida. São meus para sempre. São meus para o bem e para o menos bem. Amo-os com toda a minha força.O que me entristesse e revolta são os "malditos comentários" que as pessoas fazem. Enfim, temos que aprender a viver com isto e ignorar.
    Obrigado por este lindo texto.
    Um sonho uma realidade.
    Susana

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  19. É perfeitamente normal, a tua ansiedade, mas por muito que ele fique surpreso, todo o amor e dedicação, que em nada o fazem sentir-se diferente do JD, vai sobrepor-se a tudo o resto! Já viste bem com és, Maria? Tens noção da MULHER e MÃE fantástica que és?... Admiro-te tanto… e, tenho a certeza que, para os teus filhos, tu és a sua maior ídola! (e prontos… lá entraram uns ciscos para os olhos!)

    Já as “pessoinhas” com cérebros do tamanho de grãos de areia, é que me irritam pá! Embora, nenhum de vocês 3, e mesmo o Edu no futuro, vejam a situação de uma forma diferente o problema é a porcaria da sociedade que, nem por mesmo cheia de problemas é capaz de deixar os outros viverem em paz e concentrarem-se mais em resolver as suas frustrações… e, bem lá no fundo, essas pessoas, que fazem comentários depreciativos, têm é inveja de não serem capazes de serem como vocês, que adotaram uma criança e ponto final. Passou a ser um 2º filho igual ao 1º, que só não foi gerado dentro do teu útero mas foi e é gerado, dia após dia, dentro do teu coração!

    ABRAÇO aos 4 ♥
    Tété & Xavier

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  20. Lindas as tuas palavras.
    Acredito que existam momentos menos fáceis de gerir.
    Mas esse amor vai ajudar em tudo na vida dele e na vossa.
    Beijo e obrigado por partilhares sentimentos tão teus e tão lindos.
    Bom fim de semana e não comas muitas castanhas

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  21. Maria,
    Gostei imenso do teu texto!
    No meu caso pessoal, como sabes, não tive a felicidade de ter um filho biológico, mas fomos abençoados com o nosso filho do coração e sentimos-nos completamente realizados como pais do nosso filho, que tanto amamos, embora me doa saber que não fui eu que o carreguei no ventre, como eu gostaria, meu Deus... por enquanto, ainda não entramos em qualquer conversa sobre as suas origens, ainda é cedo... mas uma coisa ele já sabe, os pais adoram-no e sente-se seguro!

    Vê-se pelo sorriso, que o teu filho é feliz!

    Um grande beijinho para vocês e bom fds

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  22. bem, é impressionante a tua perspectiva. Ao mesmo tempo prática e ao mesmo tempo tão carinhosa e mãe-leoa. bjs!

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  23. Adorei ler-te!
    Já sabes o que penso sobre a vossa atitude, têm corações de ouro!
    bjs

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  24. Adorei ler este texto, carregadinho de amor e carinho!
    O meu padrasto começou a viver connosco desde os meus 2 anos...tenho ligação com o meu pai biológico, mas quem considero meu pai é o meu padrasto (até o trato por pai)...o que faz alguma confusão às pessoas, pois ele é goês.
    No meu caso, fui eu que adotei o meu pai! Sinto um AMOR tão grande por ele! Pois foi ele que tratou de mim, que me deu atenção, que cuidou de mim...
    Há uma frase (se calhar recordaste, pois foi dita numa novela brasileira): "não és sangue do meu sangue, carne da minha carne, mas és VIDA da minha VIDA"!! Foi sempre o que eu senti em relação ao meu PAI!
    (desculpa o desabafo!)
    Beijinhos e MUITAS felicidades

    Tia Moky

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  25. Olá, obrigada pela tua visita. Gostei muito de conhecer a tua família linda.
    Um beijinho grande:)

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  26. Adorei ler-te, és linda e tens 2 filhotes lindos, desejo-vos tudo de bom :)
    Beijinhos

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  27. Bem, adorei ler o que escreveste mas há uma coisa, não sei se haverá diferença em algumas pessoas da tua familia por ele ser adoptado ou simplesmente porque, e isso a minha mãe diz, que gosta mais de uns netos que doutros, ou melhor, sente mais afinidade porque está mais vezes ou porque se identifica mais com eles....nãos erá isso!?
    Mas olhaque essa dos adoptados serem "diferentes.....ora bolas!!!
    Sabes, eu acho que deveias dizer ao Edu quando ele mesmo perguntar ou então por volta dos 16/18 anos quando já tiver passado a fase dificil da adolescencia e tiver idade para, caso queira, ir falar com as assistentes do sitio onde esteve até aos 2 aninhos e poder saber mias sobre as raízes dele, acho que se for interessado gostará de saber porque foi deixado no entanto acho que se ele pergntar antes se deve explicar e da forma talvez não totalmene verdadeira mas cheia de carinho....os pais não tinham possibilidades e queriam que ee fosse educado por uma familia que pudesse dar tudo o que eles não podiam...um dia falar nas drogas, maus tratos e essa realidade que se esconde um pouco.
    E és valente, uma mlher forte e olha...até o acho parecido contigo LOLLLLLLL e sabes? vamos criando expressões de parecenças com quem mais estamos, é natural que se pareça mais contigo ou com o teu marido e até com o dinis com expressões por exemplo.

    Um beijãooooooooo
    barbara - sol e lua

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  28. Este teu post comoveu-me até às lágrimas. Muitas felicidades para os teus filhos. Mas realmente um livro que discrimina crianças adotadas como diferentes devia ser proibido! Haja paciência. Já agora todos os orfãos são diferentes e o nosso actor Luis Aleluia que cresceu na casa do Gaiato, também é diferente? também temos que ter paciência com ele? Temos que ter paciência é com quem defende essas ideias e as divulga sem consciência do que está a fazer. beijios e felicidades.

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  29. Ler isto foi uma emoção muito forte.
    Tocaste em pontos muito sensíveis.

    obrigada pelo elogio deixado lá no meu blog :)

    Timetraveller

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