Já ouvi dizer que quando a vida nos corre mal, até os cães nos fazem xi-xi em cima e realmente daqui a pouco só falta isso...
Como toda a gente está cansada de saber, trabalho na função publica. Não por opção, pois quando comecei a trabalhar assinei um contrato individual de trabalho com uma instituição publica, que à 3 anos atrás foi fundida com mais 2 entidades do estado, passando a exercer na função publica. Podia ter saído? Pois podia mas a crise já estava chegar... E atenção, para quem vai escrever aqui que não me podem despedir, tal não é verdade, pelo estatuto que tenho posso ser despedida e não posso ir para a mobilidade...
Pouco depois de me ter casado (vou fazer 16 anos em junho...) surgiu a oportunidade de comprar uma casa, a casa dos meus sonhos! Era através de uma cooperativa de habitação e começamos a dar dinheiro todos os meses, as nossas poupanças iam direitinhas para a nossa futura casa. Depois de várias vicissitudes e atrasos à 3 anos atrás lá fomos morar para a casa nova. Tão bom acordar com o canto dos passarinhos, respirar o cheiro dos eucaliptos quando abrimos a porta de manhã, ver bandos de crianças a brincar na rua como no meu tempo... é isto que eu quero para mim, é isto que eu quero para os meus filhos, será pedir muito?????
A crise chegou e com ela o ano passado cortaram-me o salário a mim e ao meu marido. O subsidio de natal foi apenas recebida uma parte (como a maioria das pessoas...). Este ano a situação piorou. Salário continua cortado, subsidio de férias e de natal retirados injustamente, porque não é para toda a gente como o ano passado, o meu trabalho é menos que os das empresas particulares, eu contribui mais para a crise???? (eu e o meu marido trabalhamos no mesmo sitio) Para "ajudar" tinha a minha casa anterior arrendada (não a consegui vender, bem queria...) e a senhora que lá estava deixou de pagar. Pior ainda, tinha um subsidio de chefia que também me foi retirado...
Chegou ao fim do meu mês de trabalho com meia dúzia de euros na conta. Não compro roupa, nem extras a não se para os miúdos. É quase só casa-trabalho, trabalho-casa. Sinto a minha vida a andar para trás, sinto-me a perder tudo o que ganhei com o suor do meu rosto, com o esforço do meu trabalho... Tenho medo do futuro e sinto-me com muito pouca esperança. Estou cansada de pagar pelo que não fiz, de ser honesta e ver os ladrões e aldrabões saírem sempre bem e eu contar os tostões ao fim do mês...
Podia ser pior? Claro que podia, podia estar desempregada, podíamos não ter saúde (o meu marido já se anda a ressentir, com a tensão alta...) podia não ter os meus filhos na minha vida, podia não ter amigos... Sei bem o que é não ter dinheiro, o que é não saber se tenho para comer amanhã, não ter uma peça de roupa nova durante anos (comprei a minha 1º peça de roupa nova com 18 anos, quando comecei a trabalhar, de resto era tudo em 2º corpo ou a minha mãe que fazia...). Não é essa vida que quero para os meus filhos, de passar necessidades, de contar os tostões (que agora são cêntimos).
Não posso deixar-me ir abaixo, sei que sou o pilar da minha família, do meu marido, dos meus filhos... Tenho de sorrir quando me apetece chorar e contar até 10 quando não tenho paciência para os meus filhos e dar-lhes beijos e mimos em vez de ralhar com eles... mas não é fácil...
Isto é um desabafo, este meu blog fala das coisas boas da minha vida, os meus filhos mas também me ajuda a deitar cá para fora o que me vai na alma.
E para que não seja tudo cinzento neste blog, desejo-vos uma boa Primavera, que o renascer da Primavera nos traga também o renascer da esperança num futuro melhor